Nasci apaixonado por bichos, e como as crianças da minha geração, também quis ser jogador de futebol. Mas a paixão pelos animais falou mais alto e aos poucos substitui os treinos nas quadras pelas pistas do mundo com quatro patas.
E numa chácara em Mairiporã estava a brincadeira mais esperada da minha infância, que era montar nos animais dos vizinhos, não me importando se era cavalo, burro ou mula, ou ainda o clima, horário, se a trilha era de barro, asfalto, plana ou subida.
Mas foi na Vila Guilherme, na Sociedade Paulista de Trote, que em 1997, comecei a me desenvolver. Até esse momento eu era apenas um amador em busca de seu hobby.
Lá tive a oportunidade de ser proprietário de uma égua – a Proteína Del Frank – uma manga-larga paulista. Por sorte ou destino caí na única cocheira híbrida, o Stud Basílio. Nela coexistiam cavalos de corrida e cavalos de sela, no qual me proporcionaram muitos ensinamentos.
Sou muito grato pelo acolhimento no Stud Basílio, em especial, ao Alfredo Basílio Neto (Alfredinho) e à sua família. Da terceira geração naquele espaço, o acompanhei em todas as atividades. Ele foi o responsável pela minha base e pelo meu amadurecimento profissional e até pessoal. Foram anos repletos de amizade, treinos e corridas.
Entrei sem saber nada e fui me virando. Se eu pudesse falar sobre o sentido que mais me ensinou, afirmo que é a observação. Pela manhã ajudava na rotina de treinamento dos cavalos de corrida e pela tarde sentava na cerca para ver os treinadores de cavalos de sela e as suas formas de trabalhar. Então, no final do dia quando a pista estava vazia eu tentava aplicar o que havia visto.
A Sociedade Paulista de Trote foi a minha escola, e durante os dez anos em que estive lá, participei de oito Romarias até Aparecida do Norte. Para alguns um passeio, para outros uma promessa. Já para mim representava uma experiência a mais, em que aprendi a trabalhar os animais em situações reais.
Como já tinha uma boa noção de flexionamento, resolvi procurar novos conhecimentos. Então no ano 2000 realizei um curso de rédeas com o Gilson Diniz. Foram dezoito dias no seu rancho em Itapira. Saí um pouco mais refinado e com novas perspectivas.
Com vinte e poucos anos comecei a participar de campeonatos de touro mecânico em festas. Em 2003, notei que tinha habilidade e ganhei alguns torneios, despertando a vontade de ganhar a vida nos rodeios.
Durante dois anos, estive presente nos rodeios, participando de montaria em touros, mas a dificuldade de manter a constância nos treinos e o medo da minha família me fizeram parar, por ser considerado um dos esportes mais perigosos para os seus praticantes. Entretanto, essa experiência acabou me beneficiando com um olhar mais cauteloso para a equitação.
Ainda em 2003, por ser apaixonado por treinamento de animais, busquei compreender o universo canino. Então fiz um curso com o Caio Alexandre (Caio Work Dog’s), um dos mais renomados treinadores de cães do Brasil, baseado no sistema de ensino Siborg. Ao longo desse tempo, além de ganhar um amigo e parceiro de treino, me formei adestrador profissional e titulei cães em provas de schutzhund e meu cão York do Rio Araguaia no nível máximo de adestramento, atual IPO3.
A maior parte do meu referencial teórico veio do treinamento de cães. Cachorro é predador. Cavalo é presa. Dois instintos diferentes que ampliaram meus estudos, podendo complementar um ao outro, assim desenvolvendo meu próprio método de treinamento e ensino.
Em 2006, por um decreto de desapropriação, a Sociedade Paulista de Trote saiu da Vila Guilherme. Então, fui para a Villa Hípica de Caieiras, onde fui muito bem recebido pelos proprietários Fátima e Bento que confiaram e me deram total liberdade para continuar e lapidar o meu sistema de treinamento. É com muita gratidão que os destaco aqui.
Desde então passei por novos lugares e desafios, que me trouxeram experiências fundamentais para evoluir. Domei e preparei cavalos com foco no controle total da movimentação de seus corpos, preservando sua integridade física e também seu estado emocional.
Nessa minha trajetória sempre tive contato com animais problemáticos e aprendi que, montar a base de um cavalo é extremamente importante, porém, as maiores dificuldades aparecem quando esses animais criam experiências.
O desafio de identificar as individualidades, estabilizar e reabilitar os cavalos num curto período de tempo é o que me move.
Quando descobrir o lugar em que a sua paixão encontra a sua habilidade, você estará pronto para atingir as pessoas com o seu trabalho. E depois de 20 anos me preparando, estabeleci uma relação entre os animais baseado em oito pilares: inteligência, método, constância, paciência, justiça, temperança, facilitar para aprender e dificultar para aprimorar.
Com essa filosofia espero contribuir para o equilíbrio entre o cavalo, o cavaleiro e o conjunto.